Atlético 1 x 0 Mirassol – Belo Horizonte
Assim como o Galo Doido, o Galo do técnico Jorge Sampaoli também tem dentes. Como é do linguajar da bola, agora o Atlético tem um time que morde bastante. Foi o que se viu na noite desse sábado, na Arena MRV, diante do Mirassol. Do outro lado estava um adversário que começou a rodada 25 dentro do G4. A única hipótese para vencer um adversário que vive fase melhor é morder bastante, é brigar por cada bola, é chegar junto, é fazer faltas. Em resumo, é competir.
É comum e de certa maneira até simplório dizer que o problema de uma equipe em crise é somente a falta de raça. No caso do Atlético o buraco é mais embaixo. O trabalho ruim de Cuca não deu ao elenco uma cara de time, fez bons jogadores parecerem ruins e claramente era tranquilo jogar contra esse Galo. A primeira missão de Sampaoli era resgatar o espírito de luta.
Porém, não é uma tarefa simples. Tanto que nos primeiros jogos o time ainda se apresentou numa rotação bem abaixo, como foi no clássico com o Cruzeiro, pela Copa do Brasil, e no empate dentro de casa com o Santos. Aquele time que deixa até a última gota de suor dentro de campo começou a aparecer na altitude, no empate com o Bolívar, no confronto de ida pelas quartas de final da Copa Sul-Americana.
Mas como não é um processo fácil e até parece lento quando se tem jogos a cada três dias. Contra o Botafogo, depois de bons 45 minutos iniciais, o time sucumbiu na etapa final, mesmo com um jogador a mais. O espírito de luta retornou contra o Bolívar, na decisão por um lugar na semifinal da Sul-Americana. Numa noite especial para a Arena MRV, que viu a maior exibição da torcida do Galo, o time não jogou nada, mas lutou bastante. Competiu o tempo todo e foi premiado com o gol nos acréscimos da etapa final.
O processo parece que ficou completo diante do Mirassol. Sampaoli claramente priorizou a parte física ao invés da questão técnica na hora de escalar o time. Em campo estava Igor Gomes, não estavam Scarpa ou Reinier. Também estava Caio Paulista e não Guilherme Arana. E, no ataque, a mudança que certamente mais chocou boa parte da torcida alvinegra: Rony correndo, e muito, enquanto Hulk estava sentado no banco de reservas.
Talvez a decisão mais acertada de Sampaoli.
Rony, o incompreendido

Seria mais fácil e até mais popular escrever sobre Everson. Afinal de contas o camisa 22 teve mais uma atuação memorável. Defendeu tudo o que foi chutado e gastou o tempo como só ele é capaz de fazer. Porém, até atingir o status de ídolo do Atlético, Everson comeu o pão que o diabo amassou. Demorou mais de um ano até cair nas graças da torcida.
Quem passa por processo semelhante é o atacante Rony. Não tem como dizer se um dia ele vai se tornar ídolo, mas a birra que muitos carregam tem a ver com expectativa e realidade. Para aqueles que esperavam um Rony goleador e capaz de decidir jogos em sequência, o atacante é tratado como uma péssima contratação. Pois a expectativa é muito acima do que ele é capaz de entregar.
Afinal de contas, Rony não é protagonista e muito menos é o atacante que a cada rodada vai tirar um coelho da cartola para salvar o Galo das enrascadas. Por outro lado, o torcedor que acompanhou Rony com atenção no Athletico-PR e no Palmeiras sabia o que o atacante entregaria e ele está entregando.
Em cinco anos de Palmeiras, Rony sempre foi um excelente coadjuvante. Mas a média de gols dele com a camisa palmeirense foi de 12 a cada temporada. Pelo Galo, em 2025, já foram dez gols anotados. Ou seja, Rony está perto de entregar o que sempre fez pelo Palmeiras. A diferença é que no Allianz Parque ele contou com um time mais bem ajustado, o que destacava a importância dos coadjuvantes e fazia os protagonistas jogarem como protagonistas.
Já na Arena MRV, num time que ainda está em construção, Rony se tornou um bagre indefensável na visão de grande parte da torcida. Como se fosse o culpado, assim como outros jogadores, por todos os males de 2025. Mas atuação diante do Mirassol apenas jogou luz no que Rony é capaz de entregar para o Atlético. Um jogador que vai lutar bastante, certamente vai faltar o refino técnico em alguns momentos, mas jamais vai faltar disposição para ganhar disputa aérea com zagueiros mais altos, por exemplo.
Enquanto Rony teve pernas para correr, o Mirassol não teve um jogador a mais, depois que Alonso cometeu um erro bobo e foi corretamente expulso, ainda no primeiro tempo. Rony correu tanto que não eram 11 contra 10, mas sim 11 contra 10,5. Ninguém tem o currículo que tem o Rony sem ter méritos. Ninguém é titular com Abel Ferreira por tanto tempo sem ter valor. E Jorge Sampaoli sabe muito bem disso. Com ele, Rony não será o protagonista, mas um importante coadjuvante.







