Atlético 3×1 Independiente del Valle – Belo Horizonte
Pela manhã desta quarta-feira (29), poucas horas depois de o Atlético bater o Independiente del Valle e se classificar para a final da Copa Sul-Americana eu me deparo com a seguinte conversa em um grupo de WhatsApp formado por ilustres atleticanos.
“Não jogamos bem em 2025. Um fato. Mas os caras são bons”, postou um jornalista bastante conhecido pela torcida. Em seguida, outro repórter tão famoso quanto fez um questionamento.
“Eu estava pensando como está a noite do Cuca. Pensando que seria ele e tal”.
“Se fosse ele, não seria”, veio a resposta seca de um terceiro atleticano conhecido entre os torcedores.
Resposta dura, mas real. E isso me fez pensar em como a torcida do Galo teve papel fundamental na classificação do time à decisão da Sul-Americana.
Dos pés do Dudu saíram duas assistências para Arana e Bernard, que marcaram os dois primeiros gols da noite. E o que esses três jogadores têm em comum além da qualidade para jogar futebol? Eles têm a confiança de Jorge Sampaoli. Antes de o argentino assumir o posto que era ocupado por Cuca, o trio Arana, Bernard e Dudu era massacrado por boa parte da crítica. Outrora jogadores de seleção brasileira, os três haviam se tornado caricaturas do que foram um dia.
Jorge Sampaoli não resgatou somente os três. Ele também foi fundamental para resgatar o time atleticano na temporada 2025. A defesa se mostra mais sólida do que estava algumas semanas atrás. Além dos atletas já citados, Vitor Hugo, Fausto Vera e Igor Gomes são outros nomes que ganharam uma vida nova na Cidade do Galo. Não só nova, mas principalmente eficiente. Enfim, a lista de recuperados por Sampaoli não é curta.
Superando dificuldades
É preciso olhar bem os números e os resultados para entender como o trabalho de Jorge Sampaoli em 2025 tende a superar o trabalho de 2020. Na primeira passagem pela Cidade do Galo o treinador argentino venceu o Campeonato Mineiro e ficou em 3º no Brasileirão. Mas foi num momento de maior investimento no time. Aliás, Sampaoli montou o elenco à maneira dele. E teve muito tempo para trabalhar.
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Foi naquele ano em que o planeta parou por causa da pandemia causada pelo Coronavírus. Portanto, foram meses de trabalho diário no CT, até que a equipe entrasse em campo para jogar.
Já o cenário de 2025 é completamente diferente. Sampaoli chegou com um elenco pronto, com a janela fechada e sem ter como mudar. A caminhada começou com uma eliminação para o Cruzeiro, na Copa do Brasil, mas verdade seja dita: sem as digitais do treinador, que assumiu o cargo e logo de cara teve a difícil missão de vencer um clássico por dois gols de diferença. Obviamente que não conseguiu.
Além do desafio de montar um time nos meses finais da temporada, Sampaoli precisava lutar também contra o tempo. Jogos a cada três dias. Viagens e lesões. Quase falta tempo para treinar. Para aumentar o grau de dificuldade para o técnico argentino, o Galo perdeu jogadores importantes por lesão. O zagueiro Lyanco e o atacante Cuello, talvez os dois atletas de linha mais regulares da temporada só voltarão a jogar no ano que vem. Alexsander, que estava se firmando na equipe, foi outro que ficou um longo período inativo.
Pressionado pela proximidade com a zona do rebaixamento. Pressionado pela torcida que nessa altura já desconfiava de quase todos os jogadores do elenco, tanto que até mesmo o ídolo Hulk passou a ser contestado como nunca antes havia acontecido desde que desembarcou em Belo Horizonte. Foi então que Sampaoli não teve dúvidas. Era momento de dar um passo atrás antes de dar dois passos para frente.
Seguindo a velha máxima do futebol, de primeiro arrumar a defesa e depois o setor ofensivo, Sampaoli botou a mão na massa, e com o total respaldo da Massa. Por vezes faltou futebol. Por vezes faltou o resultado. Mas é fato que o Atlético de Sampaoli já é um time muito melhor do que era o Atlético de Cuca. Se no fim de agosto o atleticano procurava forças para acreditar que o time não seria rebaixado, dois meses depois o fantasma do rebaixamento ainda está ali, mas já não é tão grande como antes. E mais, o foco principal agora é em conquistar uma taça inédita.
O protagonismo da torcida
Quando digo que a torcida colocou o Galo na final não é por causa dos mais de 40 mil torcedores que estiveram presentes na Arena MRV e fizeram uma bela festa. A torcida incentivou o time o tempo. A renda foi de R$ 2,6 milhões e a Massa fez barulho. É a combinação perfeita. O clube consegue ter uma boa arrecadação sem ter um estádio calado.
A torcida colocou o Galo não final pois foi a Massa quem contratou Jorge Sampaoli. Toda a mudança vista em campo nos últimos dois meses só foi possível porque a torcida escolheu o treinador e deu o aval para que Sampaoli se sentisse à vontade para mudar o que fosse necessário.
Sampaoli não era a primeira opção da diretoria do Atlético. Nem a segunda, a terceira ou a quarta. Na verdade, é possível dizer que Sampaoli nem sequer era uma opção. Mas diante de negativas de outros profissionais e nomes imediatamente rejeitados pela torcida tão logo que eram especulados, a gestão atleticana se viu refém de fazer uma única escolha que seria aceita. E a fez. Buscou Jorge Sampaoli e o treinador sabe que se não fossem os atleticanos, ele não estaria tão perto de vencer a Sul-Americana pela segunda vez na carreira.
“Acho que a torcida do Galo é muito leal à equipe. Mesmo não tendo um ano tão bom, estão sempre presentes, apoiam. É um dos motivos que me fazem estar aqui”, disse durante a coletiva após a classificação para a final.
Agora, o desafio da torcida do Atlético é comparecer em bom número em Assunção. No ano passado, na decisão da Libertadores, foram mais de 26,6 mil atleticanos presentes no Monumental de Ñunez, segundo a Conmebol. A Sul-Americana não tem o peso da Libertadores, mas por tudo o que o atleticano viveu nos últimos 12 meses, a “Sula” tem o valor de uma Copa do Mundo.
